· Na manhã de
hoje, acordamos e saí por Blois para comprar algo fresquinho numa boulangerie
que tem logo aqui na esquina do hotel. Nossa localização é realmente muito boa,
bem central mas longe do fervo.
Logicamente, para mim, sair de manhã significaria dar uma
voltinha pela cidade e fazer algumas fotos!... naquele horário em que a vida na cidade está começando, quando a luz é ideal...
Voltei para o hotel com muitas fotos e alguns artigos da boulangerie, tomamos
nosso gostoso café da manhã na mesinha do quarto e foi adorável. Deu até pra
fazer uns sanduíches pra viagem.
Ah, e o tornozelo
de Joaquim picado pela vespa? Tudo normal, nem se via direito onde foi a picada, o que
confirmou a tese de que matei o bicho antes que ele soltasse o ferrão e que o
escândalo de Joaquim foi um tanto maior do que a dor da picada...
Ontem percebi que o freio traseiro de minha bicicleta não estava bom. Então antes de dormir,
mandamos um e-mail pro Frank, o cara das bicicletas de Orleans, pedindo
orientação. Ele indicou um local aqui em Blois (mas disse que se tivesse algo a
pagar seria por nossa conta...). Visualizei o endereço no google maps e indicava ser
perto, uns 4 minutos de bicicleta. Mas precisávamos deixar o quarto até às 11h, já eram 10h e queríamos dar uma volta para ver Blois de dia, subir até o castelo. Desci para conversar sobre o check out.
A senhora da recepção parece uma personagem de um filme. Deve ter uns 50 e tantos anos, já deve ter feito plástica, usa um corte de cabelo bem francês (o que isto quer dizer nem eu mesmo sei), parece muito séria e correta, sempre aparentava não gostar muito quando solicitávamos qualquer coisa dando aquelas típicas bufadinhas francesas, mas resolveu tudo o que precisávamos.
A senhora da recepção parece uma personagem de um filme. Deve ter uns 50 e tantos anos, já deve ter feito plástica, usa um corte de cabelo bem francês (o que isto quer dizer nem eu mesmo sei), parece muito séria e correta, sempre aparentava não gostar muito quando solicitávamos qualquer coisa dando aquelas típicas bufadinhas francesas, mas resolveu tudo o que precisávamos.
Por exemplo, antes de fechar a reserva,
me assegurei por e-mail que eles teriam lugar pra guardar as bicicletas e o
remorque. Depois de descarregarmos as coisas quando chegamos, ela nos deu a chave de uma porta
na rua de baixo, onde deveríamos guardar as bicicletas. Não era uma garagem ou algo assim, era uma porta comum, que dava num quartinho. As duas bikes entraram, porém
a porta um tanto estreita não permitia a entrada do remorque.
Ficamos preocupados. Voltamos para falar com ela, já imaginando que teríamos que apelar para um parking, mas ela foi super prestativa e autorizou que colocássemos
o remorque dentro do hotel, num espaço atrás da salinha de café, onde acho
que faz parte de onde ela mora. Uma ginástica! Erguemos daqui, viramos ali,
aperta, puxa e foi. Ufa, remorque guardado e seguro! O hotel em
que estamos foi construído em 1490. Sua fachada dá bem esta indicação,
embora dentro não aparente toda esta idade. Mas a altura de algumas portas
segue um padrão de, digamos assim, portas do século XV, além de ser cheio de desníveis, escadinhas e cantinhos...
Bom, mas
nesta manhã, mais uma vez disposta a resolver nossas questões, ela concordou que deixássemos as coisas no quarto um pouco mais e
as bicicletas no depósito, mas havia uma questão: o remorque. O horário da
recepção do hotel é das 7h às 11h, daí a senhora chaveia aquele lado do hotel,
e retorna somente às 17h, ficando até às 21h. Por isto, na noite de ontem, ela
havia nos passado um código da porta. Resolvemos então que eu iria com o
remorque pra loja de bicicletas, pois a outra opção seria deixá-lo na rua.
O trajeto
de bicicleta de 4 minutos levou algo em torno de uns 40 minutos, ou mais. Meu
Jisuis Cristinho!! Pense numa cidade medieval em um morro: ruelas em curvas,
subidas e descidas, algumas bem estreitas, nada segue uma lógica tipo: “perdi
aquela entrada então vou pegar a próxima”. E assim fiquei indo e vindo pedalando
no trânsito de carros e ciclovias. Até que desisti e resolvi cortar caminho a
pé pela zona reservada a pedestres. No centro de Blois, existem muitas ruas de
calçadão. Pois é, quando me vi, estava no meio da feira de sábado de manhã,
feira que ocupa grande parte destas ruelas centrais. Eu, a bicicleta com o
remorque (que é beeem chato e trabalhoso de dar ré pra fazer meia-volta), mais
alguma dezenas de pessoas e feirantes, entre senhorinhas perfumadas centenárias
com seus carrinhos de feira, senhores bonachões conversando com seus amigos
risonhos e vários turistas distraídos. E eu lá no meio. Por fim, venci a
multidão e saí. Analisei mais uma vez meu trajeto e fui pela rua principal.
Quando me dei conta, estava de volta no mesmo ponto onde ia e vinha em várias
direções, no centro do nó. Testei mais uma opção – uma grande subida, e era por
ali. Cheguei bufando e suando em bicas.
Na
loja um rapaz me atendeu, eu tinha lido na fachada o nome “Paulo Pereira” e pensei
que seria legal resolver o lance do freio em português. Perguntei quem era “Paulo
Pereira” e ele não tinha ideia de quem era. Perguntei se ele falava português e
o rapaz disse que não. Ok, deixei pra lá minha abordagem simpaticona, e falei
que o Frank tinha dito pra ir ali. Ele não sabia quem era o Frank. Fui explicar... por que, Jisuis Cristinho? Sabe quando uma comunicação começa nada a ver?
Pois as 7 ou 8 primeiras falas e réplicas foram totalmente inúteis. Por que não
ser objetivo nestas situações, não é?
Bem, indo
ao assunto, fui mostrar na bicicleta que o freio não funcionava e... funcionou.
É... a pessoa se não tem um problema inventa um só pra desperdiçar seu tempo de
ir passear numa cidade bonita e medieval como Blois... Aff...
Bom o freio
funcionava, mas a roda deslizava, eu não estava completamente louco e nem a bicicleta me sacaneando. Daí o rapaz disse que era assim mesmo, perguntei se o pneu
não estava muito liso, ele disse que não. Em todos casos, apertou mais um pouco
e foi isso. Não cobrou nada, ainda bem. Em cerca de 4 minutos eu estava de volta no hotel. Simples assim.
Na hora de sair para nossa caminhada, nos deparamos com a mesma questão do dia anterior: onde deixar o remorque? Já não tínhamos acesso ao espaço atrás da salinha de café, e continuava não entrando no quartinho das bicicletas... Resolvemos
guardar minha bici de volta no depósito e prender o remorque num poste na rua mesmo - e
ver no que ia dar. Prendi a trava na alça atrás, pois me parecia um local
firme. Finalmente saímos pela cidade.
Passamos
pela feira, subimos ao castelo, foto, fotos. Lembramos de quando estivemos ali
em 2011, mas na ocasião já era final de dia e foi uma passagem rápida. Voltamos
à feira e compramos algumas coisas gostosas pra um piquenique de almoço.
Entrada do Castelo |
Ao
chegarmos de volta, confesso que estava meio tenso de ter deixado o remorque na
rua, mas estava lá. Quando fui soltá-lo, pra começar a carregar, observando
bem, pensei que só não roubaram o remorque por que não quiseram, pois o
tranquei numa parte que facilmente poderia ter sido solta pra liberar a trava
de segurança. Ó Jisuis....
Antes de
tomar o rumo do nosso próximo destino, paramos para um piquenique de almoço na
margem em frente a Blois, com vista para a cidade. Ficamos uma horinha ali,
curtindo o rio e a vista da cidade.
Nosso
próximo destino era Chargé, próximo a Amboise. Pelo que vimos, o trajeto seria
em linha reta, sem precisarmos nos afastar da rota La Loire à velo. O percurso
até aqui foi bem, mas não tínhamos ainda encarado nenhum morro. O percurso do
primeiro dia era completamente plano. Os demais também, com eventuais
subidinhas e descidinhas, tudo leve. Mas hoje foi dia de descer e empurrar as bikes. Uma
vez. Duas. Três... Daí também descobrimos que a “rainha” da rotas cicláveis usa
meia furada, isto é, “La Loire à velo”
tem também trechos bem ruinzinhos, tipo subidona em trilha de areião, de
pedrinhas safadas, coisas do tipo. Ok, é pra dar emoção.
No caminho,
resolvemos visitar o castelo de Chaumont-sur-Loire. Lá eles tinham
estacionamento de bicicletas e armários com chave onde pudemos deixar todas
nossas coisas. Pegamos ingresso para visitar apenas o jardim e um festival de
jardins de verão, além da exposições de arte contemporânea com instalações e
esculturas em diversos pontos dos jardins e construções do castelo. Tudo
realmente muito lindo! Flores, obras de arte interagindo com a natureza e as
arquiteturas. Uma área enorme (e nem fomos conhecer dentro do castelo). Ficamos
ali por mais de uma hora e meia, daí já começamos a ficar um pouco ansiosos,
pois ainda tínhamos um bom tanto do percurso até a pousada.
Na saída,
uma surpresa! Já era quase 19h, o sol começava a cair e logo ali na margem do
Loire, vários balões começavam a ser inflados para o vôo do pôr-do-sol. Nós ali,
só sorrindo e pensando: por que não temos mais uns 2.000,00 reais para estarmos
nós num destes balões? Segunda vez no vale do Loire, segunda vez que o sonho de
voar de balão é adiado.
Seguimos
nosso caminho, ainda vendo os balões no céu por um bom tempo. Mais subida... eita, não
precisava agora que ainda tínhamos uns 20km pela frente e o fim de tarde já começava (o que
significa nesta época ainda umas 2h ou 2h30 de luz).
Seguindo,
lá pelas tantas, Joaquim começou a gritar e espernear dentro do remorque, eu
ali pedalando e a Aline mais atrás. Meio que por reflexo, freei pra ver o que estava acontecendo... hummm... erro meu! Joaquim acabou caindo para fora e ficando com as
pernas embaixo do remorque. Agito geral, primeiro ver o estado da criança, um
joelho e meio ralado de leve e tudo bem. Depois conferir o motivo da gritaria:
um inseto... tudo bem que ainda havia o trauma da picada da vespa no ar, mas foi daquelas situações que você não sabe se está bravo, apavorado ou
culpado. Por fim o diagnóstico: cansados. Retomamos o caminho, ainda alguns quilômetros
para dar conta.
Já quase lá, num vilarejo chamado Mosnes, perdemos a indicação da plaquinha da rota. Quando
vimos estávamos numa rodovia secundária (não passam caminhões, por exemplo) –
mas também não tem acostamento. Já havíamos percorrido cerca de 2km quando nos
convencemos que a rota não devia ser por ali. Em um recuo na estrada, conferimos
os mapas e estávamos na direção certa, porém não na rota de bicicletas.
Apareceu um tratorzinho e fui lá falar com o senhor que o guiava. Acredito que ele era um
duende ou algo do tipo. Rosto bem enrugado do sol, com apenas um dente na boca,
cabelo grisalho... era um duende sim. Ou então um agricultor da região. Descobrimos que no ponto
em que paramos era exatamente uma subidona pra voltar à rota Loire à velo. Fizemos uma reunião de família (Aline e eu – pois Joaquim já dormia fazia
mais de meia hora), estudamos o mapa, e concluímos que pela rodovia seria ainda no máximo 2 km, e
pelo morro, além da subida, mais uns 3 ou 4km.
Lá fomos nós, pela rodovia. Pedalamos um pouquinho e logo mais ali na frente, começamos a ver várias casas e lojas de vinho que
eram cavadas na rocha do morro. Achamos lindo ver parte da arquitetura
construída se fundindo com a montanha (aquela que não quisemos subir). E já muito próximos de nossa hospedagem, vimos um lugarzinho tão convidativo que não resistimos! Paramos para conferir. De um
lado da rua era o bar cavado na rocha e em frente, do outro lado da estrada e na margem do rio Loire, mesinhas, cadeiras, espreguiçadeiras, redes e pessoas sendo felizes e curtindo o final da tarde. Ahhhhhhhhhhhhhhhh.... mas
foi exatamente pra sermos surpreendidos por coisas como esta que viemos até aqui!!
Paramos então para uma taça de vinho branco gelado e um prato de queijos na
beira do Loire, em meio a franceses, com direito a testemunhar um pescador pegando
um peixe que deixou toda galera efervescente, com direito a um pôr de sol
rosado, à luzinhas acesas no crepúsculo – enquanto Joaquim dormia no remorque.
La vie en rose |
Quando já estava praticamente escuro, retomamos o caminho. Mais uma
pedaladas e chegamos. Foram mais 35 km hoje, da cidade de Blois até Chargé.
Marlene nos esperava em sua casa de esquina, com três
andares, construída em 1914. Ela nos mostrou as nossas instalações, acabamos
ficando sozinhos em todo segundo andar. Nosso quarto na esquina, banheiro no
meio e sala de banho com uma banheirona, no outro lado. Exaustos, tomamos um
banho (meio frio, pois acabou a água quente... mas tudo bem, está fazendo bastante calor), jantamos umas salsichas e baguette que compramos no caminho e os restos do piquenique, aquele gostoso com as comidinhas da feira de Blois.
E assim findou nosso quarto e penúltimo dia de aventura!
E assim findou nosso quarto e penúltimo dia de aventura!
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