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Vale do Loire de bicicleta - dia 02 de 05

Colocamos o despertador para acordar, tomar o belo café da manhã e aproveitar ainda a piscina para sairmos às 11h, conforme a reserva da hospedagem. Não foi assim tão difícil acordar, e o café compensou, assim como o relaxante banho de piscina aquecida logo de manhã. Nem lembro a última vez que havia tomado banho de piscina de manhã.



Uma das coisas boas de ficar em chambres d`hôte é a hospitalidade e a possibilidade de nos relacionarmos mais diretamente com habitantes do lugar. A hospitalidade é algo cultivado na França, assim como a arte de saber conversar. Então também é uma forma de praticar o idioma além de degustar produtos da região no café da manhã e receber orientações turísticas do pessoal local.

Adoramos a hospedagem no Le Clos Elisa. Ficaria ali uma semana só aproveitando o quarto, a piscina, o jardim e o café da manhã!



Antes de tomar rumo pelas ciclovias da região, demos uma caminhadinha pra ver a cidade. O local é pequeno e não tem muito o que conhecer. Mas ver as pessoas em seu dia a dia num lugar assim nos faz pensar que a vida pode ser vivida de muitas maneiras e em muitos ritmos diferentes.
Ontem a noite, já tarde, quando fui fechar a janela do nosso quarto, que era no segundo andar, vi que a rua estava absolutamente escura. A cidade quase toda já dormia e nem as luzes da rua estavam mais acesas. O céu estava estampado de estrelas prometendo um dia seguinte de tempo bom.

Elisabeth nos apresentou duas opções de ciclovia, uma pela floresta e outra que retomaria o Loire. Saint-Laurent-Nouan na verdade era mais afastado, saindo inclusive da via “Loire à velo” que havíamos tomado de Orleans até Beaugency. Existem muitos roteiros e trajetos sinalizados por toda região. Decidimos então tomar o rumo margeando o Loire. E lá fomos nós, pedalando felizes. Saímos e já passava de meio dia. Café da manhã foi por volta de 10h, então compramos sanduíches de baguete na boulangerie da cidade pra comer mais tarde.

As sungas e maiô molhados, penduramos no remorque pra ir secando no caminho. Super chique!

Bom, o tipo de chão da rota que seguimos foi bem variado: de asfalto liso em meio a plantações e floresta, a uma trilha lazarentinha e esburacada margeando o rio. Mas tudo bem, o dia estava lindo, o sol um pouco tímido, mas sem sinais de chuva ao longo da jornada.



Depois de andar por uns 9 km, fomos chegando à civilização e eis que a placa com o nome do lugar dizia: Saint-Lourent-Nouan! Mas nós tínhamos saído de Saint-Lourent-Nouan!!!

Como assim??? A cabeça deu um nó. Apesar de haver aqui e ali plaquinhas indicando a direção nas ciclovias e em meio às cidades, eventualmente nos bate dúvidas. O mapa das ciclovias da região que Elisabeth nos deu veio bem a calhar. Mas nosso bom amigo tem sido mesmo o google maps, que mesmo sem conexão com internet, nos mostra onde estamos e assim conseguimos ter mais noção dos locais e direções. Mas será que nos enrolamos em meio a nossa felicidade e empolgação e acabamos dando uma volta? Fomos entrando mais no lugar tentando desvendar o mistério. Vimos a torre da igreja e a concluímos que era a igrejinha que visitamos antes de partir: voltamos mesmo!!?. Mas chegando na rua principal, percebemos que não era o mesmo local. Vimos um mercadinho e tabac – coisa que estava fechada em Saint-Lourent-Nouen. Observamos melhor a igreja e rua principal... ufa! Não era a mesma localidade. Fui comprar algo fresco pra beber e créditos pro celular, por que, né, já vimos que pode ser útil... e a primeira pergunta que faço pra atendente, depois de um bonjour, obviamente, foi: Nós estamos exatamente onde??? Resposta: Nouen-sur-Loire, um distrito (comuna) de Saint-Lourent-Nouen, por isso a placa na entrada da cidade... aff....

O trecho mais difícil foi de Nouen para Muides-sur-Loire. Trilha com buracos, subidinhas, dureza pra seguir com um remorque. Numa bici sozinho iria bem. Em Muides voltamos para uma ciclovia melhor e fomos até Saint-Dryé-sur-Loire onde tiramos algumas fotos e fizemos uma pausa em uma área de piquenique na margem do rio, quase embaixo da ponte que vem da cidade de Mer. Por ali, o caminho da famosa via Loire à Velo vinha pra margem de cá rumo ao castelo de Chambord, o que deduzimos ser uma ciclovia melhor do que o pedaço de trilha de terra e mato que pegamos. Já havíamos feito cerca de 15 km e, mesmo tendo feito paradinhas curtas pra tirar foto, beliscar um sanduíche e beber água, seguimos relativamente direto.



Tomamos então o caminho pra um dos castelos mais famosos – e lindos – da região. Um tanto de pedaladas e já avistamos parte do muro de 32 km que cerca o parque. Tomamos o caminho indicado para bicicletas, lamentando não ser a mesma estrada de quem vem de carro, que permite contemplar o castelo de frente enquanto avança em sua direção. Tivemos dúvidas aqui e acolá se estávamos no caminho certo. Até que saímos da área de bosque e avistamos o bonitão. Uma plaquinha indicava bicicletas para adiante, mas um caminho mais curto, que parecia ir mais diretamente, nos chamava. Obviamente tomamos o caminho mais direto... E quando já quase lá, o que tinha no caminho? Uma porteira trancada a cadeado... Ahhhh... Já estávamos com 23 km de pedalada, querendo descansar largados admirando o bonitão... teríamos que voltar? Ao lado do caminho e do portão havia um campo que parecia dar acesso a uma saída desta nossa prisão. Mas uma plaquinha indicava que por ali somente podia seguir para caminhada e não bicicleta. Decidimos que Aline atravessaria os cerca de 400 m de campo pra ver se era viável ir com o remorque. Foi e... tudo certo! Sinal feito de longe, lá fui eu e Joaquim descendo a ladeira de campo em busca da felicidade.



Montamos nosso acampamento bem em frente ao castelo, na vista mais central e privilegiada. Nos largamos lá por um tanto de tempo, fotos, sorrisos, gemidos, uma bebidinha gelada, pés ventilando...
De Chambord até nosso Chambre d’hôte de hoje, ainda uns 10 km. Borá lá então que já era 17h50 e havíamos dito que chegaríamos às 18h30...



De Chambord precisávamos passar por Bracieux e vendo o mapa era uma estrada reta. As indicações de ciclovia iam pelo bosque, um caminho lindo e agradável. A energia já estava baixa, apesar da beleza do local. Em certo momento, vimos apenas a indicação de que ali era um roteiro pra passeios de cavalo, embora o chão fosse semelhante a antes, um chão de terra batida bem plana. Ficamos em dúvida e seguimos, sempre em paralelo com a estrada e os carros. Mais um pouco, indicava para as bicicletas cruzarem a rua e seguirem pelo outro lado pelo bosque, só que em sentido perpendicular. Oi??? Como assim? Nosso amigo Google maps nos confirmava que Bracieux era pro outro lado.... Seguimos um pouco e uma placa indicava Bracieux a 4,5 km. Eita... Resolvemos voltar e tomamos a via de carros mesmo – que delicia um caminho liso de novo! Os carros são bastante cautelosos, o que me deixa mais tranquilo, mas Aline não relaxa do mesmo jeito. Porém o movimento não era intenso, o que nos permitia pegar mais velocidade pra tentar chegar logo ao destino.


Logo chegamos em Bracieux. Combinamos de eu ir a mercado comprar algo pra janta e Aline mandar mensagem que estávamos a caminho. A resposta veio: em 5 minutos estaríamos no destino em Tour-en-Sologne.

Uma das coisas mais agradáveis desde que começamos o trajeto, é cumprimentar a todos que passam por nós de bicicleta com um sorridente bonjour e receber com sorrisos igualmente felizes outros bonjours. Mas também descobrimos um sério problema nesta nossa viagem. A gente se pega quase o tempo todo sorrindo – e isto é um problema pois volta e meia precisamos cuspir insetinhos que insistem em ser devorados pela nossa alegria! Pedalar sem óculos então... nem pensar, pois assim teríamos que tirar mosquitinhos dos olhos também!!

Fizemos hoje cerca de 33 km, tendo saído pouco depois de meio-dia de Saint-Laurent-Nouen e chegado a Tour-en-Sologne depois das 20h.

Já percorremos 71 km pedalando. E estamos apenas no segundo dia.

Provins, França

Adoramos Paris. Muito! Mas desde que descobrimos o interior da França, suas pequenas vilas e cidades medievais, passamos a adorar desbravar este mundo e viajar no tempo, vendo novas paisagens e ampliando horizontes.

Provins é uma cidade que está há cerca de 80 minutos de trem de Paris. Descobrimos recentemente que ela se localiza dentro da zona 5 do transporte da região de Paris. (Aqui você pode ver melhor este lance das zonas: https://www.ratp.fr/plan-rer-et-transiliens) Para circular de Paris por/para cada zona, o valor da passagem é diferente. Porém, recentemente, o passe Navigo (cartão semanal ou mensal que dá direito a andar em todos os meios de transporte público de Paris e região: bus, metrô, bonde, RER e trens) passou a abranger, pelo mesmo preço que andar dentro de Paris e periferia mais cercanias (zonas 1 e 2), todas as 5 zonas sem custo adicional. Perfeito!

Estando em Paris por algumas semanas entre julho e agosto de 2017, programamos uma semana para circular por cidades vizinhas de Paris. Estivemos então em Épinay-sur-Seine, ao norte; Sceaux e Fontainebleau, ao sul; e Provins, ao sudoeste (Disney Paris tava na lista, mas faltou energia na semana). Tudo por conta do Navigo.

Pegamos o trem na Gare de l'Est, e seguimos a Provins. Lá, desembarcamos e fomos em busca de um Office de Tourisme. Tinha visto pela internet que havia um próximo à cidade antiga e lá fomos nós flanando pela cidade pra obter um adorado mapa em papel e informações sobre o local. 

Fomos nos achando e nos perdendo, muitas fotos aqui e acolá, pedindo algumas informações, indo até cansar e chegar no alto da cidade e encontrar o tal do Office de Tourisme.

Vista desde a cidade baixa.

Na parte baixa da cidade, a mistura de arquitetura antiga, flores, alguns riachos e uma cidade em sua vida.

Nos perdermos pela cidade baixa nos permitiu ver para além da parte mais turística, tanto que em várias ruas éramos nós e alguns moradores apenas.


O tempo está por tudo: "Hospedaria da Cruz de Ouro fundada em 1270 - Boa mesa."

Para chegar ao escritório de turismo, atravessamos uma parte da cidade medieval mais turística e saímos pela muralha. Achamos o tal Office e tomamos informações sobre locais de visitas e espetáculos que haviam. Já passava de meio-dia, a fome batendo, resolvemos sentar num dos restaurantes na pracinha central da cidade murada (Place du Chatel) e almoçar. A garçonete logo foi avisando que iria demorar. Mas tudo bem, a fome não nos deixaria seguir pelo dia, precisávamos descansar um pouco, e o tempo presente em cada pedra da cidade nos dizia para relaxar. Afinal, um lugar que passou a ser edificado antes do século IX d.C. deve ter algo a nos ensinar sobre o tempo.

Porte Saint-Jean
Há quatro visitas pagas na cidade, cada uma custando em média 4 euros: Torre de César; Subterrâneos e o Hôtel-Dieu; Museu de Provins; e La grange aux dîmes (casa medieval com manequins e cenografia para visita com audioguia). Se pagar pelo passe que dá direito a entrar em todas, custa 12 euros. Considerando o tempo e que também queríamos assistir um dos espetáculos (por que não daria tempo de assistir os dois espetáculos - um com águias e outro com cavalos e cavaleiros-, fazer alguma visita e ainda almoçar), optamos por visitar o subterrâneo e a Torre de César.
mapa de Provins
Decidimos começar pelo subterrâneo, que já havíamos passado na frente ao subirmos pra cidade medieval. Mas não resistimos em ir fotografando muito na descidinha até lá. Ao chegarmos, descobrimos que a visita do horário já havia começado e que a seguinte estava já lotada.... Um pouco de frustração pela nossa falta de programação, mas fomos tomar a cidade! Resolvemos visitar então o Collegiale de Saint-Quiriace, do século XII, atentos ao seu exterior imperativo na paisagem urbana em seu interior que, como todas estas igrejas francesas,é imenso e imponente.



Púlpito em madeira entalhada. Impressiona os arcos ogivais e a dimensão da nave.

Dali fomos pra visita da Torre de César, o xodó da cidade, também iniciada no século XII, com diferentes etapas de ampliação. Já no começo há painéis mostrando a evolução e ampliação da edificação ao longo do tempo. Fomos seguindo corredores, salas maiores, escadas e escadinhas (algumas que às vezes nos perguntamos como alguém consegue passar por ali), olhando por janelas e janelinhas, vendo diante de nós a paisagem longínqua e a cidade ao redor.
No final, há um vídeo contando a história do prédio utilizando ilustrações em estilo medieval.

Tour Cesar

Detalhe da Torre de César.

Vista desde o alto da Torre de César.
Vídeos contanto a história da cidade e da construção da torre.
Há indícios de ocupação humana no local desde o paleolítico. Como cidade, Provins é considerada como a terceira criada na França, depois de Paris e Rouen. Estima-se que no século X ela tinha 80.000 habitantes. É mole?

De olho no relógio, seguimos para o espetáculo Les aigles des remparts [As águias das muralhas]. Com as muralhas como cenário de fundo, o espetáculo inclui a presença ainda de alguns outros animais como dromedário, cavalos e lobos. Com figurinos variados, trilha sonora e diferentes dinâmicas (com textos e músicas mais emotivos ou cômicos), com alguns vôos rasantes sobre o público, arrancando suspiros e sorrisos, foi muito bonito o espetáculo. São diferentes aves de rapina, de águias e falcões, à corujas, abutres e outros mais. O chuvisco durante o espetáculo não chegou a atrapalhar. Valeu os 12 euros para adultos e 8 euros para crianças.





Após o espetáculo, a saída atravessa o local onde os animais vivem, o que permite ver os animais mais de perto, saber seus nomes e locais de habitat natural.
Não poderíamos ir embora de Provins sem andar um pouco sobre as muralhas. Um pouco ali perto, vimos uma subida (próximo a Porte de Jouy), que nos dava uma visão do alto tanto do exterior quanto do interior em nova perspectiva. 
Torre de César e Collegiale de Saint-Quiriace visto desde o alto a Porte de Jouy com um chuvisco
Descemos a muralha e continuamos acompanhando-a um pouco. Já não haviam mais turistas e seguimos tranquilos pelo Trou au Chat até vermos esta outra porta de saída lateral cujo caminho ainda levava convidativo a longe.


O trem para Paris é de hora em hora, e tendo ainda tempo, resolvemos voltar a pé, mesmo sabendo de um ônibus que poderíamos tomar ali perto do Office de Tourisme. Com isso, ainda entramos em alguns comércios vendo objetos rústicos decorativos e a livraria medieval, especializada no assunto. Ao passarmos pela Place du Chatel, o comércio já estava fechado e não passava muito das 18h. Considerando que é verão, e nestes dias tem escurecido por volta de 22h...

A Livraria medieval é descendo uma longa escadinha por esta porta... muito bonita.
No caminho, já na cidade baixa, compramos uns lanchinho num supermercado e seguimos pra Gare (estação de trem). Foi daí que vimos que logo ali havia outro Office de Tourisme. Enfim, teríamos ganhado um pouco mais de tempo se tivéssemos ido ali logo na chegada, mas provavelmente perderíamos a parte mais viva de Provins, ficando nesta parte mais turística medieval.

Provins tem um calendário de eventos, atividades e espetáculos em torno dos temas medievais. Vale a pena conferir. Existem diversas cidades na França com festas medievais muito bacanas, como também a de Laon, cerca de uma hora e meia de Paris ao nordeste, na região de Champagne.
Nem de perto esgotamos Provins. Acho que valeria a pena voltar, e chegar mais cedo!

Site do Office de Tourisme de Provins: http://www.provins.net/fr/site-officiel-de-loffice-de-tourisme.html

FRANÇA - Mont Saint-Michel (primeira experiência de carro na Europa)

Quando fomos morar em Paris por um ano, em 2010-2011, tínhamos o desejo de viajar muito pela Europa. Já estávamos há quase dois meses e era grande a vontade de dar uma fugidinha de Paris em um final de semana, para começar a explorar a "vizinhança". Um dos problemas era escolher o destino - as opções são muitas!!! 

Algumas vezes, quando chegava a sexta-feira, a gente se olhava e via que estava em cima da hora pra resolver algo. Até que finalmente tomamos uma atitude: alugamos um carro por um final de semana. Fuxicando pela internet, vimos uma promoção de locação de carro por 3 dias no final de semana. Preenchemos o cadastro e, quase num susto, decidimos viajar. Então só precisávamos decidir o destino. 

Pensamos em três opções: o Vale do Loire; as praias do desembarque, na Normandia; ou Mont Saint-Michel. Queríamos os três lugares, mas consultando alguns colegas franceses de meu curso, nos desaconselharam "tentar" tudo isso em apenas 3 dias... Desejo de brasileiro de querer fazer caber tudo em uma única viagem, eita nós!! Daí que resolvemos ir a Mont Saint-Michel. 

A gente nunca tinha ouvido falar em Mont Saint-Michel, desculpe aí... Foi uma amiga brasileira que estava de férias em Paris e que veio nos visitar pouco antes de nossa decisão que nos falou deste lugar mágico. Ficamos curiosos depois da visita (ela estava lamentando que não iria conseguir ir a Saint-Michel durante suas férias na França...) e fomos dar uma pesquisada na internet, descobrimos que é o segundo lugar mais visitado da França, depois de Paris! U-la-lá!! Logo as primeiras imagens já nos fascinaram.

Esta curta viagem começou cheia de emoções. Sobrevivemos a todas então só restam histórias bonitas pra contar.

Aline foi sozinha de metrô buscar o carro. Nunca, em trocentos anos de direção no Brasil, foi parada pela polícia. E em Paris, dirigindo há apenas 5 minutos, se viu perseguida pelo carro da guarda municipal fazendo sinal para parar. Tranquila e sem pânico, encostou o carro meio que rindo e pensando "ai, ai, lá vamos nós!". Entre várias coisas que o policial - muito gentil e educado  - falou, foi "feu rouge" (ou algo que o valha), o que aos nossos ouvidos brasileiros soa como "ferrugem".  "Será que tem alguma ferrugem na lataria do carro!?!?!?!". Alguns segundos depois o botãozinho do francês foi ligado e ficou mais claro: rouge=vermelho... sinal vermelho!! Só podia ser... e era. 

Com cara de constrangida e enquanto mostrava passaporte, licença internacional para dirigir, carteira de habilitação e recibo de aluguel do carro, foi explicando, como dava, que era a primeira vez que dirigia em Paris e que havia acabado de pegar o carro na locadora. Convencido, o guardinha foi super gente fina e só falou para prestar mais atenção - "Bien sûr, monsieur!!!" (Com certeza, senhor!!). E o segredo todo é esse, atenção, não dá pra ter pressa no trânsito em Paris, pois pedestres SEMPRE tem preferência, assim como as bicicletas. Então é preciso ter vários pares de olhos atentos em todas as direções. Outra coisa é que o sinal amarelo praticamente não existe, entre o verde e o vermelho, tem uma piscadela amarela, então não é como no Brasil - "ah, ainda dá tempo..." - não dá.

Esta foi a PRIMEIRA "emoção do dia": 


Chegando em nosso apê, carregamos o carro, um Panda, da Fiat, super compacto e uma gracinha. Fizemos uma ginástica pra ajeitar a cadeirinha de Joaquim, programamos o GPS (era a primeira vez que a gente via e usava um na vida e a mocinha da agência não fez muita questão de explicar como funcionava...) e saímos pras bandas de Mont Saint-Michel sem saber exatamente onde dormiríamos. 

Bem, depois do carro carregado, saímos do 15º arroundissement, onde morávamos. Andamos quase dois quilômetros por Paris, fizemos algumas curvas, passamos pela pela ponte de Mirabeau, sobre o rio Sena, até que dois carros começaram a buzinar pra gente num semáforo. Aline ficou indignada: "que foi agora?! O sinal tá fechado!". O sinal abriu e um cara passou fazendo sinal. Desci pra ver a traseira do carro... sei lá, vai que ficou uma porta meio aberta? Mas qual o quê: era "apenas" o notebook que eu havia deixado sem capa nem mochila em cima do carro, enquanto ajeitava a bagagem... Jisuis... toda minha vida ali, tomando um ar puro sob o céu de Paris... santas borrachinhas que não deixam o notebook ficar dançando em cima da mesa, neste caso, em cima do carro! Essa foi apenas a SEGUNDA "emoção do dia".

Havíamos programado o GPS pra fazer o caminho mais curto, o que não corresponde necessariamente ao mais rápido, já que pega estradas secundárias e com limite de velocidade menor. Adoramos! Fomos sendo guiados pra fora de Paris e de repente, a TERCEIRA "emoção do dia": demos de cara com o Palácio de Versailles, assim, de repente, sem esperar. A gente esteve lá fazia poucas semanas, mas não esperava encontrá-lo assim, sem querer..rsrs Passamos na frente e contornamos a lateral dos jardins, super radiantes.



O GPS foi nos levando e, de tempos em tempos, mandava a gente entrar numas ruinhas secundárias da estrada. Daí descobríamos umas vilas pequenas e simpáticas de uma França diferente do que conhecemos até hoje. Várias emoções no dia. 



Ah, os primeiros campos amarelos de canola...
Seguimos caminho, a viagem foi ficando longa, então programamos o GPS pra fazer o caminho mais rápido, o que significaria não entrar em tantas ruelas. Mas é impossível... O caminho mais adiante estava repleto de pequenas cidades e vilas com casas de pedras, lindas demais.


No caminho fui lendo para nós informações sobre o Mont Saint-Michel (o motivo de eu ter deixado o notebook à mão...). Lemos um relato lindo e emocionante de uma pessoa que visitou Saint-Michel e ficamos conversando sobre como essa viagem era simbólica pra nós também.
Na estrada tinha uma placa. E no alto, uma cidade: Ville de Domfront.


Já na estrada, ainda não sabíamos exatamente onde domiríamos àquela noite - e chegaríamos a noite, pois a viagem já estava tomando mais horas do que planejamos. Como Saint-Michel é pequenina e os hotéis costumam estar lotados, vimos recomendações de hospedagem em PORTONSON, uma vila próxima. Joaquim começou a ficar cansado das quase 7 horas no carro (a volta levou 3 horas apenas...). 

Em algum lugar, num relato de viagem, alguém falou de uma cidadezinha legal, AVRANCHES, e resolvemos, quase no trevo, dormir lá. Chegamos na cidade, sem conhecer nada, e começamos a procurar um Ibis, por ter ideia de preço e padrão. Por fim, ficava fora da cidade e perguntamos em um hotel mais no centro o valor da diária: 114 euros - sem café. Ahhhhhh!!! Ao lado, outro hotel que achamos meio chulézinho, mas... Perguntamos lá: 48 euros! Pedimos pra ver o quarto: todo limpinho, espaçoso e colocariam berço pra bebê. Nos instalamos e resolvemos ficar as duas noites. Mais uma emoção no dia: ficando duas noites, cada uma passava a ser 40 euros por noite. Ueba!

Ficamos então no Hotel Patton, em Avranches. Hotel pequeno, bem aconchegante, com berço para bebê, cadeirão confortável no café da manhã, aqueceram sopa pro Joaquim, guardaram coisas na geladeira (não tinha frigobar no quarto), cama confortável, banheira e chuveiro, tudo muito limpo. Ficamos no segundo andar (tem 3), com elevador. O que mais alguém viajando com um bebê de 11 meses poderia querer?

Na manhã seguinte, nos arrumamos, tomamos um café da manhã super gostoso (6 euros pra cada) e tinha até itens pro Joaquim, como banana, maça, uns potinhos de um purê delicioso e suave de maçã, iogurte e, claro, baguete.

Saímos com nosso super GPS. De Avranches a Saint-Michel são aproximadamente 30 km. J
á na estrada avistamos de surpresa le Mont Saint-Michel. Aliás, ver o Monte de longe é possível de diversos pontos... quando estávamos indo, faltavam ainda mais de 10 Km para chegar e já estávamos sendo acompanhados pela imponente presença da edificação, que ia ficando cada vez maior e mais impressionante. É de emocionar. 



Lindo demais! Quanto mais nos aproximávamos, mais fotos queríamos tirar. Foi fantástico. 



Estacionamos o carro e enquanto nos arrumávamos pra desbravar o monte, um casal mais adiante estava ajeitando o bebê no sling nas costas. Achamos a idéia ótima e amarramos Joaquim pela primeira vez nas costas (super aprovado!). Pois se tem uma coisa que não é nada prática em Saint-Michel é carrinho de bebê, pois tem muitas escadas o tempo todo. Joaquim amarrado, todos prontos e lá fomos nós, chegando pouco a pouco perto da maravilha.




Entramos nas muralhas, passamos as casinhas e poucas ruas medievais, fotos, fotos, paisagens fantásticas. 



No canto esquerdo se vê a placa de La Mère Poulard que ser um omelete famoso há séculos. Não fomos... turístico demais pro nosso perfil.
Logo na entrada, encontramos o vilarejo que consiste em lojas e restaurantes, comércio que provavelmente já existia na época de origem, mas provavelmente, ao invés de souvenirs e comida típica, eram vendidos tripa de porco e pelego de ovelha. Soubemos que mais ou menos 40 pessoas ainda moram dentro das muralhas, e há também alguns hotéis ali.
Dá pra ver informações aqui, no site oficial.

Joaquim dormiu, como sempre. E bem aconchegado às costas da mamãe. Diversos casais com filhos e com bebês andavam por lá, alguns de sling, outros em cangurus. Sobe, sobe, sobe mais... De repente você lembra que tudo aquilo começou a ser construído em 708, há mais de 1.300 anos atrás. 


Muita história... e a paisagem que se vê de lá de cima é incrível.


Muitas coisas sobre o lugar impressionam: lá ocorre uma das marés mais altas do mundo. Na maré baixa, a distância entre o Monte e o mar chega a 18km. Dizem que é por isto que a cidadela murada nunca foi invadida por inimigos e por isto ela foi mantida por todos estes séculos intacta.
Informações no audioguia (não é celular, não!)
 

Um dos programas é caminhar pela areia. Mas somente pessoas acompanhadas por guias é que podem ir.
Não tivemos sorte em ver o show da maré. Consultando a tábua de marés, pode-se verificar os dias onde se vê o galopar veloz da maré subindo e descendo, cobrindo e descobrindo esse areal todo.

Mont Saint-Michel é um local de peregrinação religiosa. Além do pequeno vilarejo intramuros, existe a abadia que ocupa a maior parte do monte. Paga-se pra visitar. E pague! É maravilhoso conhecer as diversas instalações. Com um audioguia, o passeio fica ainda mais bacana. E é bom preparar suas pernas. Escadas não faltam!




Ao chegarmos na igreja, vimos que uma missa estava em andamento. Todos os dias, às 12h15 tem missa aberta a todos. Quando entramos, monges e freiras estavam entoando um cântico gregoriano que ressoava naquela imensidão. É indescritível a emoção de ouvir a música ressoando pelas paredes de pedra, intercalada com silêncios, enquanto a luz do sol entra pelos vitrais marcando o ar esfumaçado. A fala pausada do padre, toda movimentação do clero... fantástico, repleto da presença serena de Deus. Foi um momento mágico para cada um de nós que não esqueceremos jamais!



Dentro da igreja.
Detalhes das gárgulas da abadia.
Conhecemos Saint-Michel num dia bom, o movimento de turistas era contido, não estava abarrotado de gente, pudemos caminhar tranquilamente nas ruinhas estreitas. Com exceção dos grupos de excursão, que quando chegavam iam dominando todos os espaços, e nós fugíamos rapidinho.
No "fogão" da cozinha da abadia.

No claustro.
São muitos ambientes, cheios de tempo e história. Janelas e portas, luzes e sombras. Uma viagem no tempo.

Em uma espécie de galeria de arte sacra, de memória arquitetônica do local, encontramos uma cópia em tamanho idêntico ao arcanjo São Miguel que fica no topo da abadia.
Medieval?

Um flagrante do tempo. Olhando pro alto, pro Saint-Michel, vimos um avião cruzando o céu imensamente azul.
O dia foi maravilhoso. Perambulamos mais um pouco pela vila, pra mais muitas fotos. Alguns museus nós não visitamos, tudo em torno dos temas medievais e religiosos. 


Olha São Miguel lá no alto!
Tínhamos lido também sobre outra cidade, alguns quilômetros adiante, Saint Malo, e resolvemos dirigir até lá pra aproveitar o resto do dia. 



Chegando lá, logo procuramos a cidade antiga, murada. Andamos pelas muralhas e ruas da cidade medieval e vimos o dia findando.




É possível dar a volta inteira na cidade por cima das muralhas. Bela vista da cidade e do mar.

 



Também circulamos pelas ruelas e aproveitamos pra fazer um lanchinho. Saint-Malo está na Alta Normandia e Avranches na Baixa Normandia. Saint-Michel tá li, pelo meio. A região é conhecida pela produção de cidra e suas comidas típicas. Os detalhes aqui e ali sempre nos encantamm


Já escuro, voltamos os mais ou menos 70 km até nosso hotel. Ainda demos uma voltinha por Avranches pra comer uma pizza. Domingo a noite, clima silencioso por toda parte.



Na manhã seguinte, demos uma volta por Avranches, mais fotos, muito frio. O lugar é bonito, mas depois de Saint-Michel, tudo fica ofuscado.


Dia amanhecendo. Vista da janela do quarto do hotel.

Belíssima catedral de Avranches.

As gárgulas são fascinantes.

Ruínas de um castelo.
 Há um parque bem simpático em Avranches de onde se tem uma vista fantástica de Mont Saint-Michel.


Prontos pra voltar a Paris, ainda tivemos mais uma emoção.

Outra aventura em relação ao carro foi abastecer. Primeiro porque teríamos que descobrir como se faz, uma vez que aqui os postos são self-service, no melhor estilo "se vira, camarada!!". Pegamos o carro na locadora e saímos de Paris com o tanque cheio. Fizemos todo o passeio e no domingo, antes de pegar a estrada de volta o marcador indicava que estava entrando na reserva, até aí estávamos bem tranquilos. O stress começou quando, saindo de Avranches, paramos num posto e a bomba estava com um aviso hors de service (fora de serviço). Pensamos que seria melhor voltar e encontrar um posto na cidade, pois sabe-se lá a que distância seria o próximo posto na estrada. Voltamos. Estivemos em três postos e nada... nos ocorreu que poderia ter algo a ver com a tal greve e crise que a França estava enfrentando, e aí?!?!?! 

Continuamos nossa busca... graças a Deus achamos a essence 95 sans plumb (gasolina 95 sem chumbo), que era o que precisávamos. Enchemos o tanque e pegamos a estrada. 

A viagem de volta foi tranquila, para nosso alívio os pedágios funcionam como no Brasil, com uma pessoinha para receber o dinheiro. 

Mas outro stress começou chegando em Paris. Nós teríamos que devolver o carro com o tanque cheio, para não pagar o absurdo que eles cobram na locadora pelo litro da gasolina. Fomos ao posto mais próximo de casa, dando a viagem por encerrada, era só encher o tanque e pronto... ledo engano! Hors de service... foi o aviso que lemos em outros tantos postos que encontramos... até que encontramos um posto com combustível, nem tão longe de casa... ufa! Mas como ainda não tínhamos pego a manha de encher o tanque, ao sair do posto vimos que o marcador indicava o tanque "quase" cheio, mas não totalmente... E não é que o carinha da locadora, na hora da devolução, queria cobrar a diferença!?! 

Contra-argumentamos dizendo que foi muito difícil encontrar combustível, que tivemos que rodar muito e coisa e tal... por fim, ele foi camarada e não cobrou. Mas tivemos uma noção de como a situação estava crítica quando, enquanto aguardávamos para fazer a devolução do carro, vimos um cara saindo meio indignado porque estava alugando um carro com o tanque quase vazio e não tinha a mínima ideia de onde encontraria combustível... e o mocinho da agência não sabia o que dizer... 

Depois lemos que quase dois mil postos na França estavam sem combustível naqueles dias. As refinarias de petróleo aderiram à grave contra a reforma no sistema de aposentadoria que estava sofrendo uma reforma no país. O caos estava feito. Saímos respirando aliviados por termos devolvido o carro.

A viagem de ida de Paris a Avranches, que levou 7 horas de duração, levou apenas 3 horas na volta. Optamos pela autoroute (rodovia). Estradas ótimas, com pedágio, pagamos 4 pedágios no trecho que fizemos, total de mais ou menos 13,00 euros. Na verdade as autoroutes ganham em número de pistas, e limite maior de velocidade, porque em termos de qualidade de estrada, as secundárias todas eram muito boas também e muitos trechos em pista dupla. Dirigir na estrada aqui na França, e pelo que ouvimos falar, em toda a Europa, é muito tranquilo. Já em Paris, a coisa muda de figura.

Depois deste final de semana, nossas viagens podem ser contadas em "antes do GPS" e "depois do GPS". É a coisinha mais maravilhosa do mundo! Ele nos dá opções como pagar pedágio ou não, caminho mais rápido ou mais curto, e ainda avisa que o mais curto não é necessariamente o mais rápido, nem o mais econômico... foi essa nossa opção na ida, e amamos! Apesar da sensação de estarmos sendo vigiados o tempo todo, afinal, por mais que nos perdêssemos o tal GPS sempre sabia dizer onde a gente estava, a tranquilidade de ter "alguém" nos indicando o caminho o tempo vale cada centavo de euro pago! Nem cogitaremos alugar carro por aqui sem GPS!

E pra finalizar, antes de saírmos do Brasil, pesquisamos sobre carteira de habilitação para dirigir na Europa. Em alguns lugares dizia que é necessária a Permissão Internacional para Dirigir (PID), em outros dizia que a Habilitação brasileira é suficiente. Como Aline precisou renovar a carteira antes de vir para cá, resolveu fazer a PID também. Quando foi buscar o carro na locadora, levou a Permissão Internacional mas quando mostrou o documento, a mocinha pediu o documento do país de origem... voi lá!

O carro que alugamos era um xuxuzinho, um Panda da Fiat, bem pequeninho e super gostoso de dirigir. Pegamos a opção mais barata, mas o carro era completo, com direção hidráulica, vidros elétricos, ar condicionado, etc. Não sei se aqui existem carros mais básicos que isso... A locação para três dias ficaria em 114,00 euros, mas a cadeirinha para o Joaquim é um opcional pago a parte (28,00 euros) e o GPS também (10,00 euros por dia), e ainda tem impostos e seguro opcional, combustível, pedágios, etc. Ou seja, alugar um carro não é das coisas mais baratas por aqui, mas é muuuuuito bom! É ótimo ter a liberdade de ir e vir quando a gente bem entender, e parar quando e onde quiser...

A viagem a Mont Saint-Michel foi uma decisão repentina e muito acertada. Foi uma viagem maravilhosa de carro, nossa estreia pelas estradas europeias.

Donc, voilá! C'est ça. C'est fini.

outubro de 2010.